PROJETO SABIÁ LARANJEIRA NO BJ
Escolas públicas de São Paulo
atualmente estão tendo a oportunidade de ter contato com outras disciplinas
além das mais conhecidas na grade escolar, como português, matemática,
ciências. Trata-se de uma iniciativa do Projeto Sabiá
Laranjeira, que realiza apresentações musicais didáticas em cinco escolas públicas
da capital paulista, localizadas em regiões de vulnerabilidade social. São
elas: EE Emiliano Augusto Cavalcanti de A. e Melo, EMEF Brasil Japão, EMEF
Solano Trindade, EMEF Arthur Withaker e EMEI Mário Ary Pires.
O projeto surgiu em 2016 a partir de
uma iniciativa de Fábio Ferreira e Mariana Ceres, alunos do curso de
licenciatura em música que, durante a realização dos estágios obrigatórios na
EMEF Brasil Japão, viram a necessidade de estreitar os laços entre a
universidade e o ensino básico. Convidaram então grupos musicais formados
por colegas do Departamento de Música (CMU) para se apresentarem na
escola a fim de expôr um pouco da diversidade musical presente no
departamento e proporcionar àquela comunidade escolar um contato maior com o
trabalho e a formação dos músicos.
Após essa iniciativa desenvolvida
exclusivamente pelos estudantes, iniciou-se no ano seguinte o projeto
piloto Música na Escola. Além da integração da mestranda Gina
Falcão e do professor Antônio Carlos Carrasqueira – docente da CMU e
referência em educação e musicalidade – ao Sabiá Laranjeira, naquele ano foi
estabelecida também uma parceria com o Projeto Escolas Campo: Formação em Diálogo, organizado por
funcionárias da Faculdade de
Educação da USP. Além da EMEF Brasil Japão, o projeto piloto incluiu mais três
escolas: EMEF Solano Trindade, EE Emiliano Augusto Cavalcanti de A. e Melo e EE
Antônio Francisco Redondo. A escolha dessas instituições se deu por conta de
sua boa relação com as educadoras do Projeto Escolas Campo e
pelo fato de receberem muitos estudantes dos cursos de pedagogia e das
licenciaturas da USP.
O projeto piloto, que ocorreu de
agosto a dezembro de 2017, aconteceu sem nenhum suporte financeiro da
Universidade, contando apenas com a participação voluntária de alunos e
ex-alunos do CMU, que se dispunham a realizar os concertos. Esse trabalho
rendeu um artigo científico que foi publicado nos Anais do XI Encontro
de Educação Musical da UNICAMP e uma reportagem que foi publicada
pelo Jornal da USP, sobre atividade realizada na EMEF Solano
Trindade. A repercussão da reportagem despertou o interesse da diretora da EMEI
Mário Ary Pires, localizada no Jardim Lídia, na zona sul, e da diretora da EMEF
Arthur Withaker, localizada na Vila Sônia, que entraram em contato com o
projeto para implementarem também em suas escolas. Atualmente, o Sabiá
Laranjeira faz parte do Programa Unificado de Bolsas (PUB) da USP, contando com 18 alunos
bolsistas atuando na produção e também com as performances.
O dia a dia do
projeto nas escolas
Sabiá Laranjeira mantém uma
parceria com o Laboratório de Música de Câmara (LAMUC), coordenado pelo
professor Michael Alpert, também do CMU. Diversos grupos de música de câmara,
formados por estudantes do departamento, recebem orientação pedagógica e se apresentam
para estudantes do ensino básico. A partir desses encontros, o projeto promove
a troca de conhecimento – como a ampliação e contextualização de
repertório, fruição de obras, experiência de palco etc. – entre
a comunidade universitária e comunidade escolar.
Em 2019, o Projeto Sabiá Laranjeira
têm realizado uma média de cinco apresentações por mês, uma em cada escola, e,
ao todo, já realizou 34 apresentações musicais. Cada apresentação tem a duração
de cinquenta minutos, o que corresponde a uma aula, de forma que a rotina
escolar não é prejudicada. Além disso, o projeto recebe até oitenta alunos por
apresentação, sendo que no início do semestre há um acordo com a equipe gestora
sobre quais as turmas receberão o projeto.
Os concertos são sempre para as
mesmas turmas, o que contribui para a formação de repertório dos jovens. Já os
grupos, variam a cada concerto. “Procuramos proporcionar o contato com a
diversidade de gêneros musicais que são trabalhados pelos alunos do
departamento de música”, afirma Mariana, que hoje é uma das produtoras do
projeto.
As apresentações didáticas contam com
a execução de quatro a cinco músicas, intercaladas com momentos de diálogo
entre os músicos e a plateia, breves discussões sobre temas ligados à música e
ao fazer musical. “As crianças e adolescentes têm recebido muito bem o projeto.
Sentimos que a constância das apresentações tem resultado numa melhor
concentração e envolvimento dos estudantes durante os eventos”, conta Mariana.
Ellen Arruda, também musicista do
projeto, fala sobre o impacto social que ele traz: “o Sabiá Laranjeira faz com
que diversas questões e estilos musicais cheguem até os ouvidos dos jovens e
crianças de escolas públicas, de uma maneira em que eles possam trazer suas
questões, conhecer instrumentos, saber mais sobre o universo musical e suas
possibilidades, as funções que a música tem, entre outras coisas, acredita a
aluna. "É um momento importante de troca de saberes, experiências e
reflexões sobre música”.
Embora o ensino de música nas
escolas públicas do Brasil seja obrigatório desde 2008, na prática, issso
não é uma realidade na maioria das escolas. Para Ellen, um dos motivos é a
falta de professores de música em relação à grande quantidade de escolas
existentes. Além disso, a aluna aponta que "em muitos casos, essas escolas
não possuem recursos necessários para aulas de música, tem salas de aula
superlotadas o que leva muitas vezes o professor de música a optar por outros
espaços e instituições. Do meu ponto de vista, é uma área que precisará de
tempo e investimento para se consolidar na educação básica”, conclui Ellen.
Foto de capa: Cecília Bastos/USP Imagens
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